sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Os gargalos e a representatividade


Mais uma safra de cebola que chega. Repete-se o filme: produção de qualidade, em quantidade e sem uma política pública de comercialização. A produção de cebola nortense consegue a proeza de remunerar bem quase toda a cadeia do setor, sobretudo o atravessador que ganha muito. Exceto o agricultor familiar que literalmente paga para produzir.
Esta é a realidade que sistematicamente aflige o produtor. Contam com Deus e com a sorte. Para ganharem têm que torcer pela desgraça alheia em outra parte do país.
Não se percebe uma articulação das representatividades locais para minimizar este gargalo histórico. Sabidamente ainda somos os melhores produtores do mundo. Porém, péssimos comerciantes. Este é o entrave a ser desobstruído. Há urgentemente a necessidade de política pública. Cadê a representação do setor?
Com um Sindicato Rural inerte, omisso e silencioso. Muito mais preocupado em lucrar para garantir a polpuda gratificação de seus diretores do que lutar pela abandonada classe de produtores.
Sem uma representatividade legislativa autêntica, pois os produtores ainda não conseguem dissociar quem os explora de quem os representa. Já que mais uma vez não elegeram nenhum representante da agricultura familiar. Não se articulam coletivamente a ponto de enfrentar com a firmeza necessária esta demanda histórica que é a construção de um conjunto de políticas públicas que contemple toda a cadeia produtiva da agricultura familiar.
Com uma EMATER que faz o que pode, mas nitidamente abatida por um governo desastroso ao setor que foi este que está indo embora.
Sem parcerias com Universidades Federais da região para investir em pesquisa e acompanhamento-análise-projeção de mercado.
A este pano de fundo, acresça-se um governo municipal que não prioriza o setor. Que não empreende ações com o propósito de enfrentar este quadro que interfere na saúde financeira do municipio.
Chegamos ao quadro desastroso que está estabelecido em São José do Norte. Uma supersafra de cebola, mas sem mercado.
Além de compreenderem melhor a exata dimensão da força coletiva que têm, os homens e as mulheres do campo precisam qualificar substancialmente sua representatividade política nos espaços que ocupam. Estas lacunas precisam ser bem ocupadas.
Dispõem de outro importante instrumento que subutilizam. Refiro-me a Cooperativa dos Agricultores Familiares. Ferramenta que rapidamente pode dar a resposta positiva do setor, desde que fortalecida por eles próprios e bem gestada.
Os exemplos da força do cooperativismo não deixam dúvida que este é o desafio de primeira ordem que se impõe ao movimento agrícola nortense. A partir daí as coisas tendem a acontecer no que tange a comercialização. Como por exemplo, a inserção da Produção na Bolsa de Valores, a busca de mercado no exterior, a previsível e constante necessidade de acompanhamento do mercado, a possibilidade de beneficiar o produto agregando-lhe valor via agroindústria, a pesquisa, entre outras iniciativas.
Não é difícil entender o que se acomete sobre a agricultura familiar nortense. Como não associar o que nos está posto a baixa qualidade de nossa representatividade?

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