domingo, 29 de maio de 2011

Educação é tudo?


Professora Maria do Carmo Gautério


Educação não é tudo. Tudo é distribuição justa da renda nacional, é reforma agrária e reforma urbana, é respeito aos direitos conquistados pela luta de muitos ao longo do século XX – saúde, moradia e transporte, é orçamento participativo, é devolver ao povo o que do povo foi historicamente roubado. Mas se não é tudo, educação é parte significativa e fundamental na construção de uma sociedade, seja ela qual for – a melhor ou a pior. Porque se pode educar para manter o construído ou se pode educar para transformar o socialmente posto até aqui.

Nos discursos de todos os partidos políticos, de todos os poderosos meios de comunicação, de todas as “forças vivas” das comunidades, hipocritamente, no máximo, ou ingenuamente, no mínimo, a educação aparece como tudo, como a solução para todas as mazelas nacionais, como a “salvação” do país (ou será do mercado capitalista?). Entretanto, na prática, o que se vê é a responsabilidade desta educação “redentora” ser entregue a profissionais submetidos a um regime de trabalho aviltante e a um nível salarial indigno de qualquer categoria profissional.

Afinal, o que a sociedade quer destes trabalhadores? Sairia de casa um “doutor” qualquer para trabalhar com o salário que ganham os professores? Compraria livros e participaria de “seminários de formação” um empresário qualquer, trabalhando 60 horas por semana? Aceitaria trabalhar três turnos por dia, a R$ 10,00 o turno, um diarista qualquer com curso superior? Pois é o que fazem cotidianamente os professores: trabalham, compram livros, participam de seminários de formação e enfrentam três turnos de serviço a R$ 10,00 o turno. É desta realidade que tratamos, quando discutimos a escola pública rio-grandense.

Na tarde do dia 25 de maio, a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul conseguiu ser o espelho da vontade oculta da classe dominante deste país a quinhentos anos, ao deixar de votar um mísero reajuste de 11% para esta categoria profissional. “E daí?” – dirão alguns. “Não vem este mês, virá no outro.” – afirmarão outros. “Sabem quanto tempo esperamos por este reajuste?” – perguntarão os professores.

Sabem professores, todos sabem. Entretanto, esta continua a ser a prática política dominante – não é bom para os “de cima” que a escola dos “de baixo” seja boa, por isso, o necessário é que sejam mantidas a insatisfação e a desesperança daqueles que a carregam nos ombros. O que não sabem, talvez, é como se sente alguém ao “ter que dar sem ter para dar”, como cantava um poeta muito tempo atrás.

O que não sabem também, ou não lembram mais os senhores deputados, é que os trabalhadores em educação, assim como saem às ruas e às praças para lutar por seus direitos, podem entrar nas salas de aula e reforçar a luta por uma outra sociedade, na qual o Parlamento seja de fato a Casa do Povo e a Escola Pública seja, de verdade, prioridade dos governos.

Os professores e funcionários de escola são milhares, os estudantes são milhões, milhões em dobro são os pais, todos eleitores e, principalmente, todos cidadãos que, em movimento de construção coletiva, podem querer explicações de cada um dos nossos 55 deputados sobre o deprimente espetáculo que protagonizaram naquela triste tarde de quarta-feira. E podem, ainda, não aceitá-las.

Pode ser este o ponto de partida para um novo projeto político-pedagógico que envolva toda a comunidade escolar e tenha como “tema-gerador” a grande contradição entre o discurso e a prática – como superar socialmente o “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

E aí, então, o requisito primordial para que o povo trabalhador escolha seus representantes há de ser a coerência.

Coerência, deputados, coerência.

Os professores podem trabalhar para esta nova realidade, porque nas salas de aula ainda é a voz do mestre a voz ouvida.

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